Discursos de resistência, efeitos de verdade e ‘vontade de memória’: a institucionalização da memória da ditadura militar brasileira a partir da Comissão Nacional da Verdade - Dr. Israel de Sá

por Portal PPGEL ILEEL
Publicado: 06/09/2021 - 14:27
Última modificação: 07/09/2021 - 14:54

Resumo: Em pesquisas anteriores, desenvolvidas desde o ano de 2011, observamos um processo de produção de memórias da ditadura militar brasileira no século XXI por meio da circulação de discursos midiático e político, quase sempre constituídos na margem, fora do campo público institucional, que permitiu de modo ainda tímido um ‘dizer a ditadura’. Na esteira desse movimento, alguns pontos de institucionalização da produção de memórias foram surgindo, como o processo de revisão da Lei de Anistia em 2010 e a formação da Comissão Nacional da Verdade (CNV) em 2012, que culminou na publicação de seu relatório no final de 2014. É justamente sobre este processo de institucionalização das memórias do período que pretendemos nos debruçar neste projeto. Se, por um lado, continuamos a considerar a produção de memórias daquele período e a circulação de sentidos e efeitos de memória em nossa sociedade na contemporaneidade, privilegiando, ainda, discursos de resistência, por outro, pretendemos, doravante, por luz em comissões institucionais e governamentais que realizaram trabalhos de recuperação de dados e documentos, tendo como foco predominante o relatório e os documentos divulgados pela Comissão Nacional da Verdade – bem como de comissões regionais, especialmente do Triângulo Mineiro, que se formaram em decorrência daquela –, no intuito de fortalecer nosso trabalho a respeito da produção de sentidos e efeitos de memória em nossa sociedade relativos a período tão importante da história brasileira. Ancorados nos pressupostos teóricos da Análise do discurso de linha francesa desenvolvida a partir dos trabalhos de Michel Pêcheux e seu grupo, nos desenvolvimentos de uma semiologia histórica proposta por Jean-Jacques Courtine e em articulação constante com a perspectiva arqueogenealógica proposta por Michel Foucault e com os trabalhos desenvolvidos pela Nova História, temos como objetivos gerais: a) refletir sobre a produção de memórias em nossa sociedade na contemporaneidade, considerando a dimensão simbólica e histórica do discurso; b) compreender como o processo (tardio) de institucionalização da “busca da verdade” do período ditatorial brasileiro inscreve novos efeitos de memória, reorganiza os sentidos, provoca novas movências na ordem do discurso por meio de reordenações nos regimes de discursividade e, de modo mais amplo, contribui para uma “vontade de memória”; c) criação, no decorrer do período de realização deste projeto, de grupo de pesquisa cujo objetivo central será o estudo das práticas discursivas memoriais e de resistência que se efetivam na América do Sul em decorrência dos regimes ditatoriais e de seus Estados repressivos – tal grupo se formará em estreita ligação com o Laboratório de Estudos Discursivos Foucaultianos (LEDIF), sediado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e liderado pelos professores Cleudemar Alves Fernandes (ILEEL) e Vinícius Durval Dorne (FACED), que apresenta um consolidado trabalho nesta área de estudos. Aprovado no Conselho em 21 fev. 2017.

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